E eu me sinto a pessoa mais sozinha desse mundo. Não tenho assunto pra ninguém, e não pareço fazer falta nenhuma... além de uma preguiça imensa de me impor. Não quero fazer esforço nenhum pra existir pro mundo. Pra que vou me aproximar se fatalmente irei sofrer? Pra que me interessar se sei que não será recíproco? Pra que viver se eu posso ir levando uma vida medíocre, fingindo esquecer o motivo que faz as pessoas acordarem todos os dias e tentarem, mais um dia, encontrar um complemento para ser feliz?
Se desistir do mundo já é difícil, imagine desistir de si mesma e do mundo, de si no mundo. Desistir de tudo o que é pela metade: sorrisos pela metade, cumprimentos pela metade, vidas pela metade... Se não for inteiro, não me interessa. Mas a gente não pode deixar pra trás tudo o que ainda não teve tempo de se formar: uma hora isso me deixa pela metade também, e eu não quero ser deixada de novo. Não posso desistir assim.
Mas eu sei que o mundo está cheio de pessoas esburacadas... o que as move é a busca pelo revertério. Elas vão se preenchendo de música, de comida, de bebidas, de academia, de festas, de gente... porque no fundo elas têm fé no que chamam de amor. Nem que seja o amor próprio. Buscam por algo que esconda a realidade fria, mesmo que seja por alguns segundos ou mais. E o que atrai os outros? Inconscientemente, é exatamente isso, essas pessoas parecem ser tão repletas de amor e alegria que despertam fascinação e vontade de estar perto. Por mais que não estejam repletas de verdade, e por mais que também estejam a procura disso. Mas ninguém precisa saber, não é mesmo?!
Ser sozinho não é só quem acorda numa casa vazia, sem luz e sem cachorro. Ou que vaga sozinho chorando pelas ruas sem ter pra onde ir e sem ter quem o pergunte aonde quer chegar. Não é só quem não tem amigos ou família por perto.
Tem aquele sozinho que passa o dia entretendo o mundo e não tem ninguém pra agradecer, porque é só mais um malabarista que pede moedas em troca de arte e sorrisos, mas é visto como um chato que interrompe conversas no celular e atrapalha o trânsito. Tem também aquela sozinha que é a moça misteriosa da empresa e troca olhares com meia dúzia de caras, fazendo as mais tímidas desejarem seu lugar, mas que chega em casa e só queria um cafuné e um abraço quentinho. E isso, olhares de desejo não oferecem.
Solidão todo mundo sabe o que é e já experimentou pelo menos uma vez na vida. Tem gente que se rende, tem gente que foge. Mas nem a solidão gosta de ficar sozinha! Muitas vezes ela traz o medo, a angústia e a dor, fazendo parecer terrível a sua existência. Fere os mais vulneráveis. Mas e quando a solidão decide ficar sem machucar? Talvez, eu ficar sozinha seja o melhor pra todo mundo. E enquanto eu sentir isso, permaneço aqui, no papel... vomitando medos através dos dedos.
Quando a solidão toma conta assim de alguém, sem dar outras alternativas, passa a ser mais de uma solidão. É plural. Solidão de gente, de espaço, de vida... plural de solidão é vazio existencial. Mas eu ainda estou viva, não estou?! Só me falta somar ao invés de substituir, e viver ao invés de escrever.
Agora me dá licença! Vou até ali fazer diferente.
Aline Spitzer.
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